Futuro do armazenamento de energia: baterias de lítio dominam o mercado global e impulsionam pesquisas no Brasil

Image

País começa a ganhar espaço no mercado do setor com foco em soluções sustentáveis e aplicações comerciais, segundo pesquisadora

Na corrida global pela transição energética e descarbonização, as baterias de lítio vêm se consolidando como peças-chave para o armazenamento de energia.

De acordo com Maria de Fátima, pesquisadora na área de baterias do CPQD (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações), essa tecnologia representa atualmente 95% do mercado mundial de sistemas de armazenamento em baterias (BES).

Durante o Fórum Regional de Geração Distribuída da região Sul (Fórum GD Sul), que aconteceu em março, a especialista apresentou uma análise detalhada sobre o setor em uma palestra. Com base em dados atualizados até 2023, a China lidera com folga a capacidade instalada de baterias, seguida pelos Estados Unidos, Alemanha e Austrália.

Em apenas dois anos, o país asiático saltou de uma participação de 45% para 49% no mercado de baterias de lítio, superando os norte-americanos, que caíram para 11%, segundo Maria.

Aplicações em expansão

Maria também destaca três grandes áreas de aplicação para as baterias de lítio: dispositivos portáteis, veículos elétricos e armazenamento de energia.

Se em 2015 os dispositivos portáteis eram os principais consumidores dessa tecnologia, atualmente os veículos elétricos dominam a demanda, impulsionando a pesquisa e o desenvolvimento no setor. No entanto, as inovações desenvolvidas para a mobilidade acabam beneficiando diretamente o armazenamento de energia estacionário, como sistemas comerciais e residenciais, segundo a especialista.

Na América Latina, por outro lado, o Chile desponta como protagonista em projetos de armazenamento, seguido por México e, gradualmente, o Brasil. A previsão para o mercado brasileiro é otimista: o segmento de transmissão e distribuição de energia acaba apontado como promissor, seguido pelas aplicações comerciais e residenciais.

Diferentes tipos de baterias de lítio

Apesar de ser um termo genérico, Maria reforça que "bateria de lítio" abrange diferentes composições químicas. As mais utilizadas atualmente são as baterias de LFP (lítio-ferro-fosfato) e NMC (níquel-manganês-cobalto), segundo ela.

A LFP, por exemplo, tem se destacado por sua segurança, longa vida útil e menor custo, tornando-se a preferida para sistemas estacionários de armazenamento de energia. Já as NMC acabam preferidas por montadoras de veículos elétricos devido à sua alta densidade energética e menor peso, características importantes para a autonomia dos veículos.

Contudo, até mesmo nesse segmento há mudanças em curso. As pesquisas mais recentes buscam reduzir a quantidade de cobalto — um insumo caro e com questões sociais ligadas à sua extração — e aumentar o uso de materiais como manganês e silício, tanto nos cátodos quanto nos ânodos.

O que vem por aí: baterias de estado sólido e novas químicas

As inovações mais promissoras para o futuro das baterias incluem o uso de eletrólitos sólidos — que substituem os líquidos inflamáveis e aumentam a segurança dos sistemas — e a adoção do lítio metálico, que oferece maior densidade energética. Também ganham espaço, segundo Maria, as pesquisas com baterias de lítio-enxofre, lítio-ar e aquelas com novos materiais como nióbio, cálcio, alumínio e manganês.

Um dos destaques atuais, segundo a especialista, envolvem as baterias de sódio, que já se encontram em estágio pré-comercial na China.

Embora tenham menor densidade energética e suportem menos ciclos de carga e descarga, seu baixo custo, abundância do sódio na natureza e a estabilidade em faixas maiores de temperatura tornam essa tecnologia altamente atrativa para sistemas estacionários de armazenamento de energia — especialmente onde o peso não é um fator crítico.

Brasil em posição estratégica

Por fim, vale saber que apesar de ainda ocupar uma posição tímida no mercado global de baterias, o Brasil tem grande potencial de crescimento. Além da crescente demanda por fontes renováveis intermitentes como solar e eólica, o país possui abundância de minerais estratégicos — como o nióbio e o próprio lítio — e empresas nacionais que já firmam parcerias com gigantes globais, como a colaboração entre a CBMM e a Toshiba no desenvolvimento de baterias com óxido de nióbio.

Maria ressalta que o sucesso comercial das baterias de lítio em escala global impulsiona novas rodadas de pesquisa, viabiliza inovação contínua e torna a tecnologia mais acessível. “O mercado de BES está em plena expansão no mundo e também no Brasil. A tecnologia dominante é a LFP, mas há espaço para o avanço de alternativas, como o sódio”, conclui.

A trajetória até a consolidação de novas tecnologias é longa e passa por diversas etapas: do laboratório à escala pré-industrial, até chegar ao mercado. Ainda assim, os avanços recentes indicam que o futuro do armazenamento de energia será mais seguro, eficiente e sustentável — e o Brasil tem tudo para ser parte protagonista dessa revolução, segundo a pesquisadora.

Veja a palestra completa pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=hs4ER1zhpgo.

Gostou do Conteúdo, Cadastre-se já e receba todas as notícias de Canal Move no seu email cadastrado

Compartilhe esta noticia: